Enquanto caminhava pelas ruas de Botafogo, na sua segunda noite no Rio de Janeiro, a francesa Adeline Barthe foi literalmente fisgada pela música ao vivo que saia de um casarão. A jovem estudante de 32 anos logo reconheceu o mais tradicional dos ritmos brasileiros, um de seus principais interesses na viagem ao Brasil. Quando olhou para o iluminado letreiro que identificava o local descobriu que se tratava do Do Samba Hostel.
“Quando olhei o nome do hostel, decidi voltar no dia seguinte, apesar de estar bem instalada em outro hostel. O lugar parecia ter uma energia muito legal e não me arrependo, foi maravilhoso”, relembra ela da experiência vivida no início de 2019 no negócio, então recém inaugurado, pelo casal Natasha Rosa e Thiago Marques.
Antes mesmo de se conhecerem, os hoje pequenos empresários, contam que ter um hostel já era algo cogitado por ambos, um desejo surgido das experiências de viagem de cada um e que acabou até gerando identificação enquanto ainda se conheciam. “A ideia era sair um pouco do ambiente corporativo e atuar em atividades mais leves, que facilitam a viagem das pessoas, proporcionando momentos de felicidade”, revelou Thiago.
Toda a bagagem corporativa do casal de empreendedores foi usada para uma vasta pesquisa de mercado, plano de negócios e muita visita a espaços que pudessem abrigar o negócio que estava sendo desenhado. Foi quando encontraram o casarão no coração de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, que já havia abrigado por cinco anos o Rio Soul Hostel, que fechou em 2017.
Samba por todos os cantos do hostel
“Cara, nós amamos o samba”. A frase dita por Thiago em entrevista ao Brasil Hostel News está mais do que demonstrada nos inúmeros detalhes desde a entrada do hostel. Mérito da companheira de vida e negócios que encarou o desafio de criar os detalhes com as próprias mãos.
Os antigos LPs espalhados pela parede são da coleção do pai dele com alguns que a mãe dela encontrou. A própria Natasha fez o layout dos quadros com letras de música, mandou imprimir e arrumou as molduras.
As placas dos quartos, batizados com nomes de ícones do samba, também foram arte dela. Segundo eles foi difícil encaixar todos os sambistas que queriam homenagear, mas chegaram a um acordo depois de várias conversas e a ajuda de amigos.
O único que se repete em homenagens é o mestre Chico Buarque que, além de dar nome a uma das suítes, está no mural grafitado na área externa da casa já que “a Natasha ama Chico. E quem não gosta do Chico, bom sujeito não é”, sentencia ele.
Nos quartos compartilhados até as camas são temáticas, batizadas com nomes de instrumentos usados no samba. “A decoração da casa é viva. As vezes vemos algo legal e temos uma ideia de como associar ao samba. Ou ouvimos um samba e pensamos em alguma outra coisa. Acho que isso nunca vai parar não”, diverte-se o empresário.
“Já faz um ano que eu conheci esse hostel e minhas lembranças ainda estão muito fortes na minha cabeça. É muito forte o que eles oferecem”
Adeline Barthe
Experiência vai muito além da decoração
A paulista Mirian da Conceição Silva Castello, de 51 anos, é uma das hóspedes que bate cartão no casarão de Botafogo. “A temática do samba foi decisiva para a primeira visita. A oferta de hostels no Rio de Janeiro é muito grande. Eu tinha como referência apenas de que o bairro era um bom local para se hospedar”, diz ela que descobriu o hostel em setembro de 2019, voltou em novembro, depois em dezembro e novamente em fevereiro deste ano.
“Sempre que ela vem a gente já prepara uma lista de sambas incríveis para ajudar a organizar a viagem dela e muitas vezes, como a gente gosta muito de um bom samba, a gente acompanha e ainda arrasta outros hóspedes”, conta Natasha que também já estudou música na Escola Portátil, da Unirio
O hostel também é ideal para quem quer bater um bom papo sobre as histórias do samba. “A Natasha é muito inteligente, me ensinou muitas coisas sobre samba. Já faz um ano que eu conheci esse hostel, esse casal e minhas lembranças sobre essa experiência ainda estão muito fortes na minha cabeça. É muito forte o que eles oferecem por lá”, derrete-se a francesa.
Além de levar os hóspedes para conhecerem “o Rio de Janeiro mais local e menos turistão”, como gostam de dizer, eles também levam para dentro de casa um pouco da cultura carioca com rodas de samba e até uma oficina gratuita de pandeiro que volta a rolar agora em março.
O hostel tem os tradicionais quartos compartilhados (a partir de R$40) e também suítes privativas (a partir de R$130) para casais ou grupos de amigos, que querem viver essa experiência mas não topam dividir quarto com pessoas desconhecidas. O hostel não serve café da manhã, mas o comércio do bairro é muito rico e são várias as opções de alimentação.